A trajetória de Orozimbo Marinho de Almeida nas artes da matemática, das Línguas e das artes plásticas possibilita um olhar distinto sobre o mundo, transitando por caminhos que se cruzam em diversas áreas dos saberes e fazeres. Pode-se dizer que a alma dele sempre foi de educador, com alguns momentos voltados para as ciências exatas, outros, para as letras e, ainda outros, para as artes, que deram um colorido especial na tela de sua vida. Oro, como ele é mais conhecido, nasceu em Pará de Minas, na primavera de 1942. Ainda jovem, expressou o seu interesse pelas artes, em particular pelo desenho e pintura. Após concluir o ensino médio, mudou-se para Belo Horizonte, onde graduou-se em matemática Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também cursou italiano, em sua faculdade de Letras. Em paralelo, frequentou o ateliê do pintor Raimundo Costa, com quem desenvolveu a técnica de desenho e pintura a óleo. Posteriormente, estudou na Escola Guignard. Nos verões italianos de 2009 e 2010, fez curso de desenho de observação na Academia del Giglio, onde também cursou a língua italiana e frequentou o ateliê da artista Sílvia Fossati, ambos em Florença/Itália. Interessado em novas culturas, além do italiano, dedicou-se também ao estudo de inglês, no Instituto Cultural Brasil Estados Unidos (ICBEU), francês na Aliança Francesa, alemão no Goethe Institute e russo no Instituto Cultural Brasil União Soviética. Posteriormente, estudou italiano, em Florença, francês, em Toulouse, e russo em São Petersburgo. Em Belo Horizonte, lecionou matemática nos colégios da Puc Minas, Sacrecoeur de Marie e Santo Agostinho e nas escolas municipais Israel Pinheiro e Marconi. Distante das exposições de arte, desde 2006, Oro Marinho retornou à cena artística, associando três paixões: a pintura, a cultura italiana e a ciência exata. Do apreço à esta, resultou a tela que retrata um dos templos católicos mais famosos da Europa e que lhe serviu de inspiração para o livro Brunelleschi e a Cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, lançado em Pará de Minas. Quem ainda não prestigiou a exposição ou aqueles que já a apreciaram, mas querem se encantar novamente com a leveza, luminosidade, simplicidade e beleza do trabalho de Oro Marinho deve conferir um pouco de seu trabalho na recepção deste GP Jornal, na rua Antônio de Melo, 218, Centro. Para saber mais sobre ele e seu belo trabalho, a reportagem GP entrevistou o vencedor do Garra Profissional deste ano, na Arte e Cultura, Orozimbo Marinho de Almeida, 82, declaradamente reservado, mas feliz de participar da mostra bimensal deste GP jornal. Confira.
“Desde criança, eu estou ligado nisso aí (apontando para os seus quadros). Depois, eu fui para Belo Horizonte estudar, mas sempre fui um artista de fim de semana, porque eu trabalhava o dia inteiro, dando aulas de matemática e só pintava nos sábados e domingos. Eu me inspiro na natureza, basicamente. Ela é a 1ª coisa. Ao fazer um quadro, às vezes eu me lembro de um cantinho que eu vi na roça e, na hora que me dá vontade de pintar, eu me assento e começo. Na 1ª pincelada eu já sei se vai sair alguma coisa que preste, porque se eu não gostar, eu já paro naquele momento, mas eu não perco a tela, pois pinto por cima. Eu uso apenas tinta a óleo, tela de pano e pincéis. Algumas vezes, eu uso a espátula também. Minha pintura é clássica, realista, mas eu gosto também da pintura impressionista. De vez em quando, eu dou uma de impressionista, que é quando você não vê muitos detalhes. Você só vê de longe e se você olha muito de perto, a forma não está definida, é distorcida, um pouco embaçada, com muita tinta, sem se preocupar muito com a forma. Esses dias mesmo, eu comecei um quadro, quando eu falei para mim mesmo: Ah, vou pintar uma natureza morta. Aí, pus umas garrafas lá, acrescentei uma maçã e comecei a desenhar e, assim, deu um corpo e já começou o quadro. Hoje em dia, eu não risco mais, como antigamente, quando eu riscava com carvão a tela, antes de pintar. Hoje não, eu vou direto com o pincel fazendo, porque já estou treinado e pintar nada mais é que desenhar com tinta,” ensina Oro.
QUANTO TEMPO LEVA PARA UM QUADRO FICAR PRONTO? - “Não tem um prazo certo para as minhas obras ficarem prontas não, porque eu começo um quadro, depois eu falo vou começar outro, porque, por exemplo, eu vi umas bananas lá em casa e tinha vontade de pintá-las, antes de comê-las (riso). Agora, seu eu for contar o tempo gasto em um quadro, descontando as paradas, em 3 horas eu faço um quadro.”
E AS TELAS? - “Eu compro muitas telas, de uma só vez, umas quarenta, de vários tamanhos, porque se eu vou pintar, por exemplo, uma garrafa e ela é grande, preciso colocá-la em pé e assim a pintura vai saindo.”
MAIORES DESAFIOS - “Os maiores desafios para realizar OS meus trabalhos sempre foi a falta de tempo. Eu queria ter pintado mais, mas como eu trabalhava muito, eu não tinha muito tempo e a pintura para mim era um hobby. A 1ª exposição que eu fiz em Pará de Minas foi nos Anos 80, quando a Maria Ângela Grassi abriu uma galeria da arte, na loja do marido dela, o Zé do Zico, e escolheu quatro artistas para participarem e eu fui um deles. Depois, eu expus umas quatro vezes na Casa da Cultura e na Escola de Artes. Em BH, expus em algumas Pucs várias vezes, nas de Contagem/MG, Arcos/MG, na Caixa Econômica Federal de BH. Foram vários lugares... Hoje em dia, a única coisa que eu pretendo fazer é não parar de pintar. Expor eu não me preocupo muito não. Este ano, além desta exposição da GAZETA, vou expor também no novo espaço do Cartório do Arnaud Marinho (hoje comandado por sua filha, Andrea). É um espaço novo, descendo a rua da delegacia.”
SANTO DE CASA FAZ MILAGRE? “O pessoal de Pará de Minas sempre me valorizou muito, sempre tive uma acolhida muito boa aqui e fora daqui também. Este meu ateliê foi aberto em 2007. Era um barracão antigo que tinha sido, nos Anos 40, um depósito de milho. Como ele estava muito detonado, eu falei para a Lídia Marinho, minha prima que vinha muito aqui em casa e sempre foi uma grande incentivadora, que iria desmanchar o barracão e plantar árvores, para fazer um bosque neste lote. Aí ela me falou assim: Mas você não vai desmanchar isso jamais! Você vai fazer aqui uma galeria, para expor os seus quadros. E assim, ele foi criado...”
ALGO MAIS? - “Para adquirir as minhas artes é só vim aqui em casa, na rua Coronel Domingos, 217, Centro.”
O artista plástico e professor Oro Marinho, em seu aconchegante ateliê, onde recebeu a reportagem GP: “O meu amor pela arte veio da minha tia, Lúcia Marinho. Ela estudava pintura com a dona Yolanda Grassi e, depois, ficava pintando aqui, nesse mesmo cômodo e eu ficava vendo...”