Com o lema Se precisar, peça Ajuda!, a campanha Setembro Amarelo, realizada em todo o país, tem buscado conscientizar a população sobre a prevenção ao suicídio e a valorização da vida. Criada em 2015, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a iniciativa tem como objetivo quebrar tabus e incentivar o diálogo sobre saúde mental. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo inteiro mais de setecentas mil pessoas morrem por suicídio todo ano, sendo considerado um grave problema de saúde pública. No Brasil, estima-se que, em média, quatorze mil pessoas tiram a própria vida anualmente - uma média de trinta e oito casos por dia. Durante o mês de setembro, instituições públicas, escolas, empresas e entidades da sociedade civil promovem palestras, rodas de conversa e ações de orientação, sempre com foco em oferecer apoio e informação. Profissionais de saúde destacam que * ouvir sem julgamentos, * oferecer acolhimento e * estimular a busca por atendimento especializado são passos fundamentais para ajudar quem enfrenta sofrimento emocional. A campanha defende a ideia de que falar sobre o tema não incentiva o suicídio, mas pode salvar vidas, fortalecendo redes de apoio e diminuindo o estigma em torno da saúde mental. A escolha da cor amarela para essa campanha está ligada à história de Mike Emme, um jovem norte-americano que, em 1994, tirou a própria vida, dirigindo um carro amarelo. O gesto de amigos e familiares, que distribuíram fitas dessa cor em seu funeral, acabou se transformando em um movimento mundial de conscientização. Em muitas cidades brasileiras pontos turísticos e prédios públicos recebem iluminação amarela em alusão ao tema. Depressão, ansiedade e outros quadros emocionais, quando não tratados, podem aumentar os riscos de suicídio. Nesse contexto, a campanha ressalta a importância de políticas públicas voltadas para a ampliação de atendimentos no Sistema Único de Saúde (Sus) e para o fortalecimento dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Para falar sobre esse tema tão pertinente e delicado, a reportagem GP conversou com médico e professor de psiquiatria Philippe Souza Diniz, 38, solteiro, residente no bairro São José, que atua em consultório (veja o anúncio ao lado), hospitais e ainda ministra aula de psiquiatria, na Universidade de Itaúna/MG. É importante ler.
“Quando a tristeza vira desesperança, há falas sobre morte, isolamento extremo ou mudanças bruscas de comportamento. Os principais fatores de risco que podem levar uma pessoa ao suicídio são a depressão, uso de álcool e drogas e histórico de tentativas anteriores. O papel da família e dos amigos no acolhimento e no apoio a alguém em risco é ouvir sem julgamento, oferecer apoio e incentivar a busca de ajuda profissional. Cerca de nove em cada dez casos de suicídio estão ligados a algum transtorno mental, principalmente depressão. Os jovens têm se mostrado mais vulneráveis, já que as redes sociais, bullying e pressão por desempenho afetam muito. O bullying e a violência psicológica são gatilhos fortes, especialmente em jovens, podendo gerar sentimentos de desesperança. Atualmente, a faixa etária mais vulnerável ao suicídio no Brasil são os jovens de 15 a 29 anos e idosos acima de 70. Problemas financeiros aumentam o estresse e a sensação de falta de saída. O caminho é o diálogo aberto e o acesso a apoio. Mulheres tentam mais o suicídio, mas homens morrem mais, por optarem por métodos mais letais. O álcool e as drogas aumentam a impulsividade e reduzem o julgamento, elevando muito o risco. E mais: a pandemia e o isolamento social impactaram os índices de suicídio, pois aumentou a ansiedade, a depressão e o abuso de álcool, fatores que elevam o risco,” ensina doutor Philippe, como ele é mais conhecido.
COMO PREVENIR? - “Acesso rápido a serviços de saúde mental, restrição de meios letais e campanhas de conscientização. A mídia deve tratar o tema, falando de forma responsável, sem detalhes do método usado pelo suicida e sempre divulgando canais de ajuda. É fundamental o acesso a serviços de saúde mental no combate ao suicídio. Afinal, diagnóstico precoce e tratamento salvam vidas. Para tanto, existem novos medicamentos, terapias mais eficazes e uso da tecnologia no acompanhamento. É preciso oferecer acolhimento, não culpar e garantir acompanhamento psiquiátrico e psicológico, com diagnóstico correto, tratamento adequado e acompanhamento contínuo. A tecnologia, como aplicativos de apoio emocional, pode ajudar na prevenção, pois aproxima o apoio imediato e facilita pedir ajuda, em momentos de crise.”
ALGO MAIS? - “Ninguém está sozinho e deve pedir por ajuda. Sempre existe tratamento e esperança! Silêncio nunca é solução. Falar sobre suicídio é salvar vidas! Gostaria de agradecer à minha família, aos pacientes e aos colegas que lutam, diariamente, contra o estigma. A minha rede social e a forma de saber mais sobre mim é o meu instagram: @drphilippediniz”
* O Centro de Valorização da Vida (CVV) atua como uma das principais redes de apoio no Brasil, oferecendo atendimento gratuito e sigiloso, por meio do fone 188 e também pela internet, 24H por dia.
O médico e professor de psiquiatria Philippe Diniz: “Ninguém está sozinho e deve pedir por ajuda. Sempre existe tratamento e esperança! Silêncio nunca é solução. Falar sobre suicídio é salvar vidas”