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ANO 40
Nº 2010
11/03/2024


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GENTE PENSANTE - 12/06/2020

O editor GP escreve mais uma crônica: No fim da vida, será que sobra algo que agente ache realmente imprescindível?

VEJA NA EDIÇÃO 1819: NAS BANCAS DE 12/06 A 18/06.

Veja também a crônica deste mesmo colunista da edição 1818 abaixo:

DÁ PARA GUARDAR PRA SEMPRE UM SEGREDO QUE NÃO É SEU?

A mulher de quase 60 anos vinha pintando os cabelos de pretinho, mas preto mesmo, tipo carvão, como eles já tinham sido na adolescência dela. Há anos também, vem usando caros cremes importados no rosto, sem falar em um ou outro puxãozinho aqui e ali, sugeridos por seu dermatologista. Levava, assim, uma vida feliz, pois todo dia, ao acordar, observava, detalhadamente, o rosto realmente jovial no espelho. Colocava uma de suas muitas roupas de ginástica, justíssimas, e ia malhar para tentar segurar o resto do corpo. À tardinha, sempre ligava para a amiga 20 anos mais jovem que ela, para fazerem a caminhada diária, intercalada com corridas. Depois, virou rotina, elas voltavam andando, vagarosamente, até os seus carros, jogando conversa fora e rindo muito. Vendo as duas de relance, apesar de duas décadas de diferença, pareciam ter a mesma idade. Porém, quando a distância morre já se poderiam ser observados detalhes da velhice que a medicina ainda não conseguiu vencer: o modo já meio cambaleante de andar e o enrugamento das mãos, bem como o surgimento de pintas marrons, ainda que já tendo passado por seções de laser de luz pulsada. Isso, sem falar na memória que, às vezes, já falta, seguidos dos conhecidos estalos de dedos de quem busca algo na lembrança mas não consegue alcançar. Nesse dia, a mulher de quase 60 falou para a amiga de quase 40:

- Eu queria contar pra você um segredo meu, mas é muito secreto mesmo. Ninguém, além de você, pode saber. Você me promete que nunca contará pra ninguém?

A amiga pensou e, depois, perguntou:

- Mas eu não poderei contar nem para o meu marido?!?

- Não, de jeito nenhum. Só você, amiga!

Elas andaram em silêncio durante um bom tempo, com a mulher mais jovem pensando. Depois de um certo tempo, ela, enfim, falou:

- Acho difícil demais guardar um segredo sem dividí-lo com o meu marido. Não dou conta! Afinal, durmo com ele, toda noite...

- Aí, você está inocente demais, menina! Você acha que os homens, como eles são, contam tudo que viveram durante o dia, na hora de dormir? Deixa disso...

- Acho que ele não tem segredos para mim, mas ainda que tenha, eu não consigo não contar tudo pra ele. Fora isso, no momento em que você contar este seu segredo pra mim, ele deixará de ser segredo. Segredo de verdade é para uma pessoa só, não é mesmo?

E você, consegue guardar os segredos que não são seus? Uma boa leitura!

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